quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Feliz Natal e Próspero Ano Novo.


FELIZ NATAL



FELIZ o ano, felizes os meses e os dias que passei,

Em companhia de todos vocês, amigos e seguidores.

Labutei noite e dia neste espaço, e jamais cansei,

Inventando, criando e, em busca de novos amores,

Zanzando de site em site, muito aprendi e pouco ensinei.



NATAL chegou, e com ele a sonhada esperança,

Aliada ao desejo de ver um mundo mais feliz.

Tendo a certeza de ver estampada no rosto da criança,

A alegria de um sorriso, pois foi o que eu sempre quis,

Lhe desejando vida farta, muito amor e bonança.



E, bem-vindo, abençoado e muito,



PRÓSPERO para todos, seja o ano que se aproxima,

Repleto de realizações, saúde e muitas felicidades,

Ó Senhor, é tudo que vos peço e que só me anima.

Somente o amor impere neste mundo de maldades,

Para que a paz reine, pois só ela engrandece e sublima.

E assim, tenhamos um mundo voltado às bondades,

Redimis os homens, elevando-os sempre para cima,

Orientai-os sobre o fim das cruciais desigualdades.



ANO de harmonia e progresso para todos, é o que desejo.

Nada de mal aconteça a ninguém, é o que peço neste ensejo.

Ordem, humildade e solidariedade entre os povos, é o que almejo.



NOVO cenário e novos horizontes se formem entre as nações,

Onde o entendimento prevaleça e seja priorizado o bom senso.

Valorizado seja o humano desde o ínfimo, ao mais intenso,

Ordeiros sejam os seres humanos nas mentes e nos corações.



R.S. Furtado.



Meus queridos amigos(as) seguidores(as) e visitantes!

A baboseira acima exposta foi a última postagem efetuada no ano de 2016. Aproveitamos a chegada do Natal para fazer uma pequena pausa destinada a um pequeno e merecido descanso, a fim de concatenar as ideias e recarregar as baterias, prometendo que, se DEUS quiser, retornaremos em fevereiro de 2017, quando retribuiremos todas às visitas, pois quem visita, espera ser visitado.

Aproveitamos também, para agradecer a valiosa companhia e compreensão de todos, pois sem essa extraordinária ajuda, jamais chegaríamos aonde chegamos.

Muito obrigado de coração.

Mais uma vez, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo para todos.

“QUE DEUS SEJA LOUVADO”

Beijos no coração de todos.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 12.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 12.
Graça Aranha, que então era um menino de 14 anos de idade, mas já calouro, atesta que seus companheiros de república viviam “distantes de qualquer preocupação intelectual”.
O futuro autor de Canaã, como toda mocidade inteligente, espera por alguma coisa que lhe desse sentido de vida e de renovação d’alma de quem percebe que tudo aquilo estava superado, mas que não sabe como, porque e pelo que. E o depoimento de Graça Aranha é precioso:
“O concurso abriu-se como um clarão para nossos espíritos. A eletricidade da esperança nos inflama. Esperávamos, inconscientes, a coisa nova e redentora. Eu saía do martírio, da opressão para a luz, para a vida, para a alegria. Era dos primeiros a chegar ao vasto salão da Faculdade e tomava posição junto à grade, que separava a Congregação da multidão dos estudantes. Imediatamente Tobias Barreto se tornou o nosso favorito. Para estimular essa predileção havia o apoio dos estudantes baianos ao candidato Freitas, baiano e cunhado do lente Seabra. Tobias, mulato, desengonçado, entrava sob o delírio das ovações. Era para ele toda admiração da assistência, mesmo da emperrada Congregação. O mulato feio, desgracioso, transformava-se na arguição e nos debates do concurso. Os seus olhos flamejavam, da sua boca escancarada, roxa, móvel, saía uma voz maravilhosa, de múltiplos timbres, a sua gesticulação transbordante, porém sempre expressiva e completando o pensamento. O que ele dizia era novo, profundo, sugestivo. Abria uma nova época na inteligência brasileira e nós recolhíamos a nova semente sem saber como ela frutificaria em nossos espíritos, mas seguros que por ela nos transformávamos. Esses debates incomparáveis eram pontuados pelas contínuas ovações que fazíamos ao grande revelador. Nada continha o nosso entusiasmo. A congregação humilhada em seu espírito revolucionário, curvava-se ao ardor da mocidade impetuosa. Prosseguíamos impávidos, certos de que conduzidos por Tobias Barreto, estávamos emancipando a mentalidade brasileira, afundada na Teologia, no direito natural, em todos os abismos do conservantismo”.
E afirma com segurança:
“Para avaliar o que foi a ação de Tobias Barreto, basta atender o que eram os estudos de Direito antes dele e depois dele”.
E mais adiante:
“O Código Civil Brasileiro, construção de Clóvis Beviláqua, se filia à inspiração de Tobias. A crítica se renova por ele. Sílvio Romero, Araripe e o próprio José Veríssimo são seus discípulos. A nossa mesquinha Filosofia, o que tem de mais inteligente, vem da libertação do grande mestre do pensamento livre. Ainda hoje se pode dizer como se disse de Kant, que voltar a Tobias é progredir.
Continua…
BRASIL BANDECCHI

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 11.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 11.
Estas ideias eram defendidas por Tobias há mais de 80 anos. Soa o ano de 1882. É o mais belo momento da vida de Tobias Barreto e da Academia de Direito do Recife. Tobias se inscreve pa disputar, em concurso que seria rumoroso como um toque de reunir para duros combates, – uma cadeira na mencionada escola.
A mocidade não se interessava seriamente pelos estudos jurídicos, sociológicos e filosóficos. Não que fosse indiferente. Ela ensinava por alguma coisa nova, mas faltava o guia, o inspirador, o propulsor.
Clóvis retrata:
“Entre os moços circulavam, desde muito, os livros de Auguste Comte, Litrré, Dubost, que iam sendo preteridos por Huxley, Spencer e Haekel. Mas estacavam todos perante uma dificuldade. Os guias mentais que lhes forneciam uma concepção geral do mundo, eram silenciosos em relação ao direito, ou mal lhe dedicavam frases parcas e insuficientes. Sentiam os rapazes inteligentes necessidade de sair da situação embaraçosa em que se viam colocados, para enquadrarem o Direito na interpretação científica que tinham do mundo. Porém, nem possuíam ainda desenvolvimento intelectual para tirarem as consequências contidas nos princípios, nem mesmo é de presumir que se tivessem completamente saturado com esses princípios e com as noções essenciais do Direito, para erguerem a construção por que seus espíritos ansiavam. Apenas reconheciam que as velharias dos compêndios não podiam mais merecer o sacrifício de suas inteligências. E, impotentes para acharem por si o mundo novo que suspeitavam embebido na distância, tomaram o expediente de fechar os livros clássicos. Se a Ciência do Direito não rejuvenescia como as suas irmãs, melhor seria desertá-la, pensavam eles”.
Tobias, com os mesmos argumentos, concluía que a mocidade não tinha, diante do que se ensinava, outra atitude, senão fechar os olhos.
Continua…
BRASIL BANDECCHI

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 10.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 10.
E depois de ouvir um aparte que não se referia à matéria e em que foi chamado de oportunista, continuou:
“Pelo que toca, ao ponto de vista civil, não há dúvida que se faz necessário emancipar a mulher do jugo de velhos princípios, legalmente consagrados. Entre nós, nas relações de família, ainda prevalece o princípio bíblico de sujeição feminina. A mulher ainda vive sob o poder absoluto do homem. Ela não tem como deveria ter, um direito igual ao do marido, por exemplo, na educação dos filhos: curva-se, como escrava, à soberana vontade marital. Essas relações, digo eu, deveriam ser reguladas por um modo mais suave, mais adequado à civilização”.
Ao ouvir essas afirmações, o Deputado Clodoaldo investe:
– “Com igualdade absoluta de direitos é impossível a família”.
E Tobias fulmina a questão levantada:
– “Igualdade absoluta! São termos que se repelem, pois a igualdade é uma relação”.
Mas Clodoaldo é teimoso:
– “O que eu quero dizer é que não compreendo a sociedade conjugal sem uma autoridade”.
Tobias elucida:
– “Essa autoridade estaria na lei. O que eu desejava, pois, era que a lei regulasse as relações de família de tal maneira que não pudesse aparecer nem a anarquia nem o despotismo”.
Volta o aparteante:
– É o que temos”.
E ouve a contradita:
– “Perdão! Nós temos o despotismo na família”.
Um deputado chama a atenção para o peso do cérebro feminino que era inferior ao do masculino. O autor de Estudos Alemães examina a observação e faz algumas perguntas que embatucam os contendores:
“Portanto, não obstante a inferioridade em volume, e no que mais possa ser, a questão permanece a mesma: Qual é o peso normal do cérebro humano? Qual é o peso que determina a aptidão para as ciências? Se é possível que a mulher, tendo, na hipótese, um cérebro de peso inferior ao do homem, mesmo assim se desenvolva, mesmo assim cultive com proficiência este ou aquele ramo científico, para que mais lançar mão de semelhantes argumentos, que não passam de conjecturas, já desmentidas pela experiência? Com efeito, já não se trata de uma mera possibilidade, trata-se de um fato: tem existido na época de hoje mulheres notáveis, que se hão dedicado com vantagens a estudos superiores. É um fato: para que desconhecê-lo?
Continua…
BRASIL BANDECCHI


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 09.


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 09.
O filósofo emergiu do crítico, no momento em que o terreno se afigurou suficientemente desbravado para receber construções, e em que o espírito sentiu necessidade de dar expansão a suas faculdades criadoras, que não se haviam esgotado com as produções estéticas. Como filósofo, foi um ensaísta dos mais atraentes, pelo capitoso de estilo, como pela segurança e originalidade dos conceitos. Faz lembrar Waldo Emerson, the great American essayst, cuja influência sobre o estilo e o pensamento de um considerável grupo de escritores foi manifesta durante longo período, segundo atestam historiadores da literatura norte-americana. E são manifestas as simpatias de Tobias Barreto pelo pensador americano, simpatias que bem claro denunciam uma afinidade espiritual mais ou menos conscientemente reconhecida.
Seus mestres em filosofia, porém, foram, depois de Vacherot e de Auguste Comte, os altos espíritos tedescos, Kant, Helmolty, Lange, Schopenhauer, Hartman, Spir, Noiré, particularmente este último e o genial, o emocionante autor do Mundo Como Vontade”. Com os nomes acima citados, que soavam em nossa terra com aspecto fortemente revolucionário, estava o sergipano escudado para semear novas ideias. Ainda não é o professor da Academia do Recife. O famoso concurso se aproxima, estamos vislumbrando o ano de 1882. Antes desse grande momento da vida de Tobias e da história do pensamento pátrio, lembremo-nos que em 1879, ele ocupava uma cadeira de deputado provincial de Pernambuco, quando através de uma propositura inteligente, levantou, em plenário, discussão sobre a emancipação da mulher. Renovador e agitador de ideias, aceitou o debate no terreno em que o colocaram. E, da tribuna, discursava:
“Mas essa mesma questão da emancipação da mulher não é coisa extravagante; é o nome dado a um dos mais sérios assuntos da época, em toda sua complexidade. Ele oferece três pontos de vista distintos; o ponto de vista político, civil e social. Quanto ao primeiro, a emancipação política da mulher, confesso que ainda não a julgo precisa, eu não a quero por ora. Sou relativista; atendo muito às condições de tempo e de lugar. Não havemos mister, ao menos no nosso estado atual, de fazer deputadas ou presidentas de província”.
Continua…
BRASIL BANDECCHI

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 08.


Clóvis Bevilaqua

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 08.
Há no Discurso em Mangas de Camisa, mais um ponto bastante interessante e que ainda hoje se discute em todos os congressos municipalistas e que refere à aplicação das rendas municipais. Não nos esqueçamos nunca que sempre precisamos considerar os problemas apresentados e discutidos, no tempo. 25 a 30 contos de réis, em 1877, era quantia, por todos os títulos, considerável. “O Estado e a Província – protesta Tobias – sugam anualmente deste Município, sem falar de outro canais, e só do que corre pelas coletorias, de 25 a 30 contos de réis. Eis o que vai no refluxo. Vejamos agora o que vem no fluxo: 10 por cento dessa quantia, que se gaste com a magra instrução pública: 15 por cento com a justiça e seus apêndices; 20 por cento, com a política; e 1 a 2 por cento, com o artigo – religião; e o resto, a saber, mais da metade, vai perder-se em outras plagas, sendo ainda que para notar que as despesas com a polícia local são as únicas que trazem um resultado prático e sensível, pois que o cidadão, em muitas ocasiões recebe no lombo a benéfica pancada do réfe. Por sua vez a Municipalidade exercita, com o mesmo zelo, as suas funções exaurientes, e não se sabe, em última análise, em que se emprega a sua receita. Por toda a parte, pois, sob todos os pontos de vista, os mesmos sintomas mórbidos, as mesmas ânsias, a mesma angústia. As consciências como que perderam o centro de gravidade moral, e balançam-se, inquietas, em busca de um apoio. A instrução é quase nula; à medida que também é nulo o gosto de instruir-se; e temos em casa o exemplo. Acabais de ouvir que o dispêndio feito com as escolas desta cidade é muito inferior ao que se faz com a polícia: sinal evidente de atraso intelectual”.
Encerra o célebre discurso com estas palavras:
O Clube Popular Escadense, meus senhores, não nutre pretensão, que seria ridícula, de vir levantar um dique de resistência contra a corrente de tantos males, cujo ligeiro esboço acabo de fazer; mas tem o intuito de incluir no povo desta localidade um mais vivo sentimento do seu valor, de despertar-lhe a indignação contra os opressores, e o entusiasmo pelos oprimidos. E há momentos, já disse com razão alguém, há momentos, em que o entusiasmo também tem o direito de resolver questões...”
Tobias era um crítico impiedoso e não poucas vezes cometeu injustiças. Atacou Clóvis Bevilaqua quando este ainda muito jovem se preparava para o voo altíssimo de jurista e pensador. Mas Clóvis não guardava rancores e era grato a Tobias que lhe abriu a inteligência para as ciências jurídicas. E com a serenidade dos sábios escreveu sobre Tobias em capítulo inteiro no seu Juristas Filósofos, onde se lê:
Continua…
BRASIL BANDECCHI

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Grandes vultos; Tobias Barreto - Parte 07.

Casa-grande do Engenho Limoeiro Velho


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 07.
Para o sergipano, onde há liberdade, a igualdade passa a ser uma utopia. Podendo o homem agir livremente, o que tiver melhores qualidades há de suplantar o que tiver qualidades inferiores, desaparecendo, assim, a igualdade. E não há dúvida. O importante é que todos tenham idêntica oportunidade, porque é injusto que uns tenham mais facilidades que outros, mas é evidente que os mais capazes aproveitarão melhor as oportunidades.
“Os indivíduos – ensina – ou os povos, que esquecem a liberdade por amor a igualdade, são semelhantes ao cão da fábula, que larga o pedaço de carne que tem na boca, pela sombra que vê na água do rio”. Com este exemplo, revela o que julga da liberdade e da igualdade. Quanto à fraternidade considera-a “mais um conceito religioso do que um conceito político”.
Fala em seguida, dos “privilégios sociais se não criados pela lei, criados pelos costumes, de cujos dislates a lei é cúmplice, não lhes opondo a precisa resistência. Debalde se fala em uma indistinção civil, a não ser as diferenças produzidas pelos talentos e virtudes, quando verdade é que o talento e a virtude não servem para marcar distinção entre indivíduos, considerados como frações sociais. O denominador comum é a fidalguia ou seu sub-rogado, – o dinheiro”.
Vê não só a distinção entre indivíduos, e afirma que a nossa sociedade não estava dividida somente em classes mas até em castas. Fala das lutas em que o partido vencedor passa a perseguir o vencido, perseguição essa “modificada apenas pela infâmia dos renegados e dos trânsfugas”. Lembra que o Bispo de Pernambuco, Cardoso Aires, em sua primeira pastoral foi bastante censurado porque apresentava seus diocesanos divididos em clero, nobreza e povo. Por essa classificação, Tobias critica o clero e, depois, investe contra a nobreza, “uma nobreza feita a mão, pela mor parte estúpida, pretensiosa, e ainda pior que a clerezia, pois que esta, ao menos, não manda açoitar os cidadãos, nem prendê-los no tronco dos engenhos”.
Refere-se ao povo, que era tratado com desprezo pelos chefes políticos e pela nobreza, “era perseguido, humilhado, abatido, a ponto de sobre ele os grandes disputarem e lançarem os dados, para ver quem os possui, como os judeus sortearam a túnica inconsútil do mártir do Calvário”.
E para provar o que afirmava, reporta-se ao que se passou no ano anterior ao que ali discursava, quando da qualificação dos votantes do Município da Escada. Os dois partidos – Conservador e Liberal – para indicarem que contavam com a maioria do eleitorado, o faziam pelo número de engenhos que tinham a apoiá-los.
– “Há mais engenhos do lado dos liberais, diziam estes.
– “Nem tantos, como alegam”, diziam os conservadores e acrescentavam: – “Se os liberais têm alguns engenhos de mais, os dos conservadores, em compensação, são mais extensos, mais povoados, mais ricos...”
E, diante disto, comenta:
“É, pois, evidente que, pela própria confissão das partes, está criada na Escada a açucarocracia, a qual se julga com direito a posse de todos aqueles que vieram tarde e não encontraram um pouco de terra para chamarem sua, e dentro desse domínio manejaram sem piedade o bastão da prepotência”.
“Sim, meus senhores, é a liberdade que nos falta: não aquela que se exerce em falar, bradar, cuspir e macular o próximo, porque esta temo-a de sobra, mas aquela que se traduz em atos dignos e misteriosos”. E lembra que na entrada do Parlamento Alemão, sob o retrato de Carlos Marthy está escrito:
“A liberdade é o preço da vitória, que adquirimos sobre nós mesmos”.
Continua…
BRASIL BANDECCHI


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 06.

Academia de Direito do Recife


GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 06.
Dito isto, afirma que não irá fazer uma análise do país inteiro e sim do município de Escada, mas verdade é que sua análise é de caráter nacional pelo que se verá a seguir. Tobias acentua que “Entre nós, o que há de organização é o Estado, não é a Nação; é o governo, é a administração, por seus altos funcionários na corte, por seus sub-rogados nas províncias, por seus ínfimos caudatários nos municípios; – não é o povo o qual permanece amorfo e dissolvido, sem outro liame entre si, a não ser a comunhão da língua, dos maus costumes e do servilismo”.
Ora, quando sabemos que o Estado é a Nação politicamente organizada, tais afirmações são chocantes. Se a Nação está desorganizada, como pode o Estado organizar-se?
Quando a Nação está desorganizada o Estado sofre as consequências dessa situação, e temos, então, a desorganização de Estado, o que se percebe por sintomas que de forma alguma se pode esconder, pois eles afloram à superfície dos acontecimentos. Tobias sentia estes sintomas, mas, possivelmente, escapou-lhe à lúcida inteligência, que o Brasil caminhava para a abolição do trabalho escravo e para a República, e ainda, para a revolução intelectual que ele, Tobias, seria a mais forte clarinada quando, em 1882, prestaria o célebre concurso para professor da Academia de Direito do Recife. Não era a Nação que estava desorganizada, era o Estado que já não correspondia aos anseios da Nação. Feita esta observação, que me parece indispensável, retomemos o pensamento tobiano:
“E importa advertir: – o Clube Popular Escadense não toma por princípio diretor nenhum dos estribilhos da moda, menos que tudo a célebre trilogia: liberdade, igualdade e fraternidade, três palavras que se espantam de se acharem unidas, porque significam três coisas reciprocamente estranhas e contraditórias, principalmente as duas primeiras”.
E fundamenta:
Mas antes de tudo, – que a liberdade e a igualdade são contraditórias e se repelem mutuamente, não milita dúvida. A liberdade é um direito que tende a traduzir-se no fato, um princípio de vida, uma condição de progresso e desenvolvimento; a igualdade porém, não é um fato, nem um direito, nem um princípio, nem uma condição; – é quanto muito, um postulado da razão, ou antes do sentimento. A liberdade é alguma coisa de que o homem pode dizer – eu sou! A igualdade alguma coisa de que ele somente diz: – quem me dera ser!...
Continua…
BRASIL BANDECCHI

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto = Parte 05.

Padre Henri Lacordaire
  

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
       TOBIAS BARRETO – PARTE 05.
 
Na Escada funda um clube popular, onde, em 1877, pronuncia discurso, que representa claramente um dos pontos básicos do seu pensamento político. Antes, ouçamos Hermes Lima:

Na crítica política, seu pensamento apresenta duas características principais: a primeira, a noção de que as instituições políticas, assim como os princípios desenvolvidos pela Filosofia a que dão lugar, são colaborações relativas à épocas e a países e que, portanto, devem ser considerados à luz dessa relatividade; a segunda, Tobias emprestava à palavra povo antes um significado social do que um significado constitucional. Ou melhor, essa palavra sugeria-lhe antes o conjunto da população nacional a ser conhecida nas exatas condições do seu viver do que no princípio político de soberania, que a Constituição depositava e encarnava no povo.

A primeira característica pode ser verificada, entre outros passos de sua obra, nas páginas dedicadas à questão do poder moderador; a segunda, no Discurso em Mangas de Camisa, principalmente”.

Neste discurso, pronunciado no Clube Popular de Escada, Tobias expunha ideias avançadas para sua época, ideias que tinham como “principal agente o espírito popular, o ímpeto democrático do século”. Isto criaria contra ele um ambiente de incompreensão e adverso. Ideias novas sempre têm inimigos. Para esses “o exercício de um direito pode tomar proporções de um fenômeno perigoso, de uma nuvem tenebrosa, que esconde no seu bojo alguma tempestade".
O próprio nome do discurso trazia algo de revolucionário. No tempo dos homens encasacados, ele se propunha a falar, simbolicamente, em mangas de camisa, isto é, com simplicidade, em família. O discurso, cuja primeira edição é de 1879, assim é anunciado:

“Disse uma vez o padre Lacordaire que a posição mais desfavorável do orador é ter que falar a homens que comem, – porém há outra, a meu ver, ainda mais desfavorável: – é quando se fala a homens que têm fome, se não se trata de meios de satisfazê-la, ou ao menos de moderá-la. Tal seria, por certo, a minha posição diante de vós, como iniciador da ideia de um Clube Popular, se me viesse à mente a singular lembrança de ocupar-me em outros assuntos, que não fossem os males da nossa vida política, o estado de penúria e a pior das penúrias, a penúria moral, em que laboramos, o desânimo dos espíritos, a surdez das consciências, em uma palavra, todos os sintomas da doença, que mata as nações, o abandono de si mesmo, o esquecimento de seus direitos, pela falta de justiça e liberdade, de que todos nós sentimo-nos sequiosos e famintos”.

Continua…

BRASIL BANDECCHI



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 04.

Escada/Pe.

GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 04.
Bacharel em ciências jurídicas e sociais, ainda ficou no Recife por algum tempo, onde lecionava Latim, Retórica, Francês, Filosofia e Matemática Elementar. Em 1871, passou a residir na cidadezinha pernambucana de Escada, e ali morou dez anos, ou seja até 1881, quando teve que se mudar para o Recife, por desentendimentos em torno de herança de sua mulher.
“No ano seguinte – referindo-se ao ano de 1871, diz ele em carta que escreveu ao seu conterrâneo Francisco A. de Carvalho Lima Júnior – vim para a Escada, e entregando-me à profissão de advogado, entreguei-me também, de todo, ao estudo da língua alemã, na qual nunca tive mestre, sou completamente um autodidata – ou mestre de mim mesmo”.
Os anos que Tobias Barreto viveu na Escada constituem um período fecundo de estudos, de realizações e de brigas, assinalando-se, também, o seu rompimento com o positivismo, e a penetração da obra de Haeckel e da qual viria a divergir mais tarde em alguns pontos. Antônio Paim publicou na Revista do Livro, nº 14, um trabalho intitulado A Obra Filosófica e a Evolução de Tobias Barreto, que merece a atenção dos estudiosos.
Aprendendo alemão, teve aberto caminhos para uma nova compreensão da Filosofia e do Direito, além de outros importantes ramos do conhecimento humano. Publica um jornal e duas brochuras na língua de Goethe, e mais Ensaios e Estudos (1875) e alguns periódicos em português. Luís Washington Vita, referindo ao jornal alemão, comenta:
“Na cidade sertaneja imprime um jornal estranho, do qual era o único redator e talvez o único leitor: Deutscher Kampfer”.
Concordo com o escritor que, ali, na Escada, seria ele o único redator e talvez o único leitor. Penso, porém, que publicando trabalhos em alemão, iniciava um intercâmbio com intelectuais germânicos e seus impressos nesse idioma se destinavam a leitores mais do além mar, do que daqui.
Continua…
BRASIL BANDECCHI


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Grandes vultos: Tobias Barreto - Parte 03.



GRANDES VULTOS BRASILEIROS QUE MARCARAM A HISTÓRIA NAS SUAS MAIS DIVERSAS ATIVIDADES
TOBIAS BARRETO – PARTE 03.
Os falsificadores da história em prol do poeta baiano esquecem-se de que em 1860 era um menino de treze e em 1862 um rapazinho de quinze anos, ao passo que o poeta sergipano na primeira daquelas datas era já um moço de vinte e um anos e na segunda, quando chegou a Pernambuco, tinha já vinte e três, era um latinista exímio e estava na plenitude do talento. Ainda mais: nas Espumas Flutuantes os versos mais antigos são de 1864, o que mostra ter o autor desprezado suas composições anteriores, por não possuírem a tonalidade que mais tarde deu a seu talento”. E o citado escritor sentencia: “Só dos dezessete anos (1864) em diante, sob a influência de Tobias no Recife, o futuro autor das Vozes d'África tomou voo em que depois subiu tão alto”.
Os argumentos que apresenta são realmente irrefutáveis. Castro Alves sofreu a referida influência e, como poeta, tem em alguns poemas lampejos geniais que iluminam toda sua obra.
Afrânio Coutinho, no seu livro A Filosofia de Machado de Assis e Outros Ensaios, no capítulo “O problema das influências”, assinala “a influência jamais constituiu motivo de inferioridade”.
Ouçamos algumas estrofes da ode de Tobias, A vista do Recife, de 1862, para evidenciar a força do seu estro:
“Mágoas tem que tem que estão guardadas
quando as vingar é sem dó!
Raça das Romas tombadas,
das Babilônias em pó,
quer ter louros que reparta;
vencer, morrer não a farta…
grande, d’altura de Esparta,
afronta o mundo ela só!…
………………………………………………………….
Sim, eu vejo, ainda a espada,
na tua destra reluz,
cabocla civilizada
de pernas e braços nus,
cidade das galhardias,
que no teu punho confias,
coeva de Henrique Dias,
guerreira de santa Cruz! *
…………………………………………………………
Assopras nas grandes tubas,
que despertam as nações;
eriçam-se as férreas jubas,
uivas as revoluções…
Teus edifícios dourados
vão-se erguendo, penetrados
da voz dos Nunes Machados,
do grito dos Camarões!…


Com a morte bebes a vida;
não te abalas, não te dóis!
D’oiro e luz sempre nutrida,
novas ideias remóis,
é que a voz das liberdades,
calçadas as potestades,
germinam, brotam cidades
do sepulcro dos heróis!


Possa a coragem de novo,
teu bafo ardente inspirar,
e a glória sair do povo,
como tu surges do mar…
O coração te advinha,
ruge o gládio na bainha,
como na gruta o jaguar.


Sejam meus votos aceitos,
dá-me a ver tuas ações,
dá-me a sugar esses peitos
que amamentaram leões…
Saíste nua das matas,
não temes, não te recatas;
contra a frota dos piratas
açula os teus aguilhões...”.


Como Victor Hugo encerrou o ciclo romântico francês, Tobias iniciou o fim do romantismo brasileiro. O poeta Tobias Barreto aparecerá sempre em tôda sua obra. José Veríssimo observa:
“O pensador nele – uma modelação do vate. Transportará para a Metafísica, para as ciências biológicas, para o direito, a magia da adivinhação, o improviso milagroso, a necessidade de idealizar e de imaginar, que é a poesia”.
Continua…
BRASIL BANDECCHI


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